Ele nasceu em 07 de setembro de 1831 em Paris. Era originário de uma família modesta que possuía um olival em Cannet, próximo de Cannes. Depois de um Inverno rigoroso em que a geada causou grandes danos nas oliveiras, a família ficou arruinada.
O pai de Victorien, Antoine Léandre Sardou, resolve então instalar-se em Paris onde foi sucessivamente contabilista, professor de contabilidade, diretor de uma escola privada e preceptor.
Para complementar os seus rendimentos, publicava manuais de gramática, dicionários e tratados sobre diversos assuntos. Como os seus ganhos fossem insuficientes.
Victorien cedo foi obrigado a granjear a sua própria subsistência, vendo-se obrigado, por dificuldades econômicas, a abandonar o curso de medicina que tinha começado.
A sua estréia teatral foi particularmente difícil: a sua primeira peça a ser levada à cena, La Taverne des étudiants foi representada no Odéon, no 1 de Abril de 1854, mas recebeu um acolhimento tempestuoso, pois tinha corrido o boato que o autor tinha sido contratado pelo governo para provocar os estudantes. A peça foi retirada de cena depois de apenas cinco representações.
Ele escreveu mais de 70 peças, entre as quais Madame Sans Gene (1893), Robespierre (1899), Fedora (1882) e Tosca (1887), para a atriz Sarah Bernhardt, os dois últimos trabalhos serviram de base libretos de ópera de Puccini e Giordano.
Victorien Sardou rapidamente ombreou com os dois mestres do teatro de então, Émile Augier e Alexandre Dumas, filho. Embora não tivesse o sentido do cômico ou a eloqüência e a força moral do primeiro, ou a convicção apaixonada e o espírito acutilante do segundo, ele revelou-se um mestre do diálogo. As suas réplicas desenvolviam-se com inspiração e ritmo.
Em 1877 ele foi eleito para a Académie Française.
No Campo da Doutrina Espírita:
Como toda ideia inovadora e revolucionária, o Espiritismo logo tornou-se alvo do interesse dos artistas, classe tristemente marginalizada e incompreendida no mundo social estabelecido e cheio de preconceitos.
Um dos casos mais notórios foi o do dramaturgo Victorien Sardou. Este se tornou um dos mais dedicados discípulos de Allan Kardec, a quem acompanhou desde as primeiras experiências das mesas girantes, a elaboração do Livros dos Espíritos e a repercussão social doutrina na Europa e nos demais continentes.
Embora não soubesse desenhar, era médium pictógrafo, produzindo ilustrações assombrosas sobre a vida em outros mundos. Apesar de seus biógrafos ignorarem sua dedicação ao Espiritismo, Sardou foi um ativista influente e pioneiro na transposição direta da nova filosofia para a linguagem artística.
A Peça Teatral de Victorien Sardou - Spiritisme guarda o mérito de ser a primeira obra a defender, no palco, as ideias da Codificação Kardequiana. Foi encenada em 1896 no Teatro Renaissance, em Paris, pela própria Sarah Bernhardt, o mais famoso mito da arte cênica em todos os tempos.
No papel de Simone, a grande atriz, Sarah Bernhardt, — judia de origem, — obteve grande consagração, visto o personagem ter-lhe dado ampla oportunidade para o emprego de... "sua voz extremamente suave, pureza de dicção e expecional criação pessoal".
A peça "Spiritisme" teve a honra de ser incluída no Index da Igreja Católica Romana.
Victorien Sardou continua a escrever. No decorrer dos anos não renega suas convicções espíritas. Acumulou espantosa documentação sobre o Espiritismo e participou de numerosas sessões experimentais, sobretudo com a famosa médium italiana, Eusápia Paladino.
Victorien Sardou morreu na manhã de 8 de novembro de 1908, coberto de honras e de glória. Paris inteiro compareceu às suas exéquias, no quadro imponente do aparato militar a que lhe dava direito a grã-cruz da Legião de Honra. Gaston Doumerge, em nome do Governo, Valdal, representando a Academia, e Paul Hervieu, pela Sociedade de Autores, pronunciaram discursos enaltecendo a obra do dramaturgo de escol e convicto espírita.
Em 1924 foi inaugurado o seu monumento, em Paris, obra do escultor Bartolomé. Suas obras estavam traduzidas para inúmeros idiomas, mas ninguém pensava que, com ele, uma época inteira desaparecia...
Fontes: Victorien Sardou - Amargo Despertar
(*) Allan Kardec e Victorien Sardou
No número de agosto de 1858, comentando o artigo, "A propósito dos desenhos de Júpiter", pela "Revue Spirite", Allan Kardec assim se manifesta a respeito de Victorien Sardou:
"O autor desta interessante descrição, é um desses adeptos fervorosos e esclarecidos que não temem confessar alto e bom som as suas crenças e colocam-se acima da crítica daqueles que não crêem em nada que escape do seu círculo de idéias. Ligar seu nome a uma doutrina nova, desafiando sarcasmos, é uma coragem que não é dada a todos. E nós felicitamos ao Sr. Sardou porque a possui.
Seu trabalho revela o distinto escritor que, jovem ainda, já conquistou um lugar de honra na literatura e alia, ao talento de escritor, profundos conhecimentos de sábio. É uma nova prova de que o Espiritismo não recruta entre tolos e ignorantes.
Fazemos votos para que o Sr. Sardou complete, o mais breve possível, o seu trabalho tão auspiciosamente começado. Se os astrônomos nos desvendam, por sábias pesquisas, o mecanismo do Universo, por suas revelações os Espíritos nos dão a conhecer o seu estado moral e, como eles mesmos dizem, é com o fito de nos excitar ao bem, a fim de merecermos uma vida melhor!
Allan Kardec
(**) Victorien Sardou a Allan kardec
Da correspondência de Allan Kardec, postumamente publicada na "Revue Spirite", extraímos a primeira das cartas que o célebre e fecundo dramaturgo, Victorien Sardou, escreveu ao eminente Codificador do Espiritismo:
"Je vous remercie, Monsieur, de 1'empressement que vous avez mis à me faire parvenir "Le Livre des Esprits". J'avais hâte de le lire, et j'ai laissé de cóté toute affaire, toute occupation pour me livrer entiérement à cette lecture. Je suis presque arrivé à Ia fin et je puis dès à present formuler mon opinion sur cet ouvrage: C'est le livre le plus intéressant et le plus instructif que j'aie jamais lu.
II est impossíble qu'il n'ait pas un grand retentissement: toutes les grandes questions de métaphysique et de morale y sont élucidées de Ia manière Ia plus satisfaisante: tous les grandes problèmes y sont résolus, même ceux que les plus illustres philosophes n'ont pu résoudre: c'est le livre de vie, c'est le guide de 1'humanité.
Recevez, Monsieur, mes compliments sur Ia manière dont vous avez classé et coordonné les matériaux fournis par les Esprits eux-même: tout est parfaitement méthodique, tout s'enchaine bien et votre introduction est un chef-d'oeuvre de logique, de discussion et d'exposition.
Agréez, Monsieur, 1'expression bien sincère de mes sentiments d'estime et d'affection.
Victorien Sardou
Tradução:
"Eu vos agradeço, Senhor, a presteza com que me fizestes chegar "O Livro dos Espíritos". Eu tinha ânsia de lê-lo, e deixei de lado todos os afazeres, toda ocupação para me entregar, inteiramente, a essa leitura. Estou quase chegando ao fim e posso, desde já, formular minha opinião sobre essa obra: É o livro mais interessante e o mais instrutivo que jamais li. É impossível que ele não tenha uma grande repercussão: todas as grandes questões de metafísica e de moral aí são elucidadas da maneira mais satisfatória: todos os grandes problemas aí são resolvidos, mesmo aqueles que os mais ilustres filósofos não puderam resolver: é o livro da vida, é o guia da Humanidade.
Recebei, Senhor, meus cumprimentos pela maneira como classificastes e coordenastes os materiais fornecidos pelos próprios Espíritos: tudo é perfeitamente metódico, tudo se encadeia bem e vossa introdução é uma obra prima de lógica, de discussão e de exposição.
Aceitai, Senhor, a expressão bem sincera de meus sentimentos de estima e afeição.
Victorien Sardou
Fontes: Centre Spirite Lyonnais Allan kardec
Fontes: Bibliothèque Nationale de France (Spiritisme, Comédie de Victorien Sardou: Documents Iconographiques)
(Em resposta a Condenação da Santa Inquisição pela inclusão no Index da Igreja Católica da peça teatral Spiritisme)
"A Igreja tem contra si, e eu a meu favor, os maiores filósofos, os maiores sábios, os maiores pensadores. Estou com eles contra a feroz concepção da eternidade das penas e, jamais pude conceber, mesmo em tenra juventude, que a Soberana Justiça castigue o crime temporário com uma penalidade sem fim"
Victorien Sardou "O Contemporâneo de Allan Kardec"